Exposição “Pinturas Recentes” de Sady Raul encerra fase atual na Galeria de Arte Solar do Rosário
No dia 26 de agosto, domingo pela manhã, às 11 horas será inaugurada a exposição "Pinturas Recentes" do artista plástico Sady Raul Pereira.
Nessa exposição ele se despede da fase atual. Para falar sobre o artista e sua obras segue abaixo o texto do Crítico de Arte Fernando Bini.
SADY RAUL PEREIRA, pinturas recentes
Suas pinturas guardam algo que vai do medieval ao maneirismo, trabalhadas com as técnicas contemporâneas da repetição e da acumulação; fica claro o jogo entre o continuum do espaço e do tempo medieval, com a homogeneização espaço-temporal da perspectiva renascentista e as múltiplas perspectivas maneiristas, chamado atenção principalmente para o corporal, para a presença do corpo, para o tocar; as figuras têm sempre um duplo sentido, e são tratadas com os efeitos de ilusão de ótica, é surrealista esse jogo trompe-l’oeil, mas é também aparentando ao pop-art, quando as figurinhas humanas se passam por retículas, que com o afastamento do observador, e provocadas pelos claros/escuros, deixam perceber outras figuras que se formam em sua retina: são Ícones, frontais, e que nos olhos (lembram os ícones bizantinos que tem sempre seus olhos fixos no espectador).
Chegamos assim ao significado central da obra de Sady, o olhar, (lembrando o título do livro de Didi-Huberman: O que vemos, o que olha). A profusão de figurinhas humanas, silhuetas, que são traços ou signos, retículas, são também fantasmas de corpos, pois é impossível abstrair completamente o corpo. As figurinhas intercaladas e superpostas evocam planos e espaços caleidoscópios endereçados prioritariamente ao olhar, então ele se aproveita de um cromatismo bem pesquisado para desafiar a razão.
“O que me determina fundamentalmente no visível é olhar que está do lado de fora” diz Lacan no seu Seminário 11; que olhar está do lado de fora? Contra a tautologia de Frank Stella, “o que vemos não é o que vemos”. O quadro nos incita a percorrê-lo com os olhos, esta maneira de constituir objetos à partir de acumulações de restos e detritos é parte da arte contemporânea, e aqui leva-nos a reflexão de que o homem atual é também detrito, sobra, numa sociedade altamente industrializada e automatizada, esta é a maneira de Sady convidar o nosso olhar a perscrutar todas as metamorfoses, aparentemente incansáveis, deste pequeninos “seres” humanos que perderam definitivamente o seu lugar, quando as hipermáquinas se tornaram auto-suficientes.
É a repetição até a saturação, o “maneirismo” do esgotamento das repetições “pops”, mas a forma unitária, total, é restabelecida nas figuras invisíveis do trompe-l’oeil. Como as figurinhas apresentam gestos de dança ou movimentos de corpos, nosso olho se vê também obrigado a dançar e a se movimentar no momento em que o quadro é oferecido ao nosso olhar capaz da descoberta de seu mistério.
Concluo citando ainda uma vez mais Lacan: “… em presença da representação (…) me garanto como consciência que sabe que é apenas representação, e que há, mais além, a coisa, a coisa em si”.
E agora vamos ao exercício do olhar…
Fernando A. F. Bini.
Professor de História da Arte e Estética.
Membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte- ABCA.
Serviço: Pinturas Recentes de Sady Pereira
A exposição abrirá dia 26 de Agosto, domingo as 11h na Galeria de Arte Solar do Rosário com a presença do artista.
A exposição permanece até o dia 13 de setembro.
Rua Duque de Caxias, 04 – Centro Histórico
(41) 3225-6232 – www.solardorosario.com.br
Entrada Gratuita