COR, CORDIS obras do acervo do MAC

COR, CORDIS mostra do acervo. Museu de Arte Contemporânea do Paraná

Esta é uma exposição que despudoradamente dá voz ao coração, à pluralidade de corações reunidos em torno da fruição da arte. É uma exposição, portanto, subversiva. Ela subverte a praxe (ou a quimera) da neutralidade crítica diante da arte e seus protagonistas. Subverte a expectativa de abordagem baseada em alguma teoria estética em voga, período histórico ou autor hegemônico. Recusa gavetas e rótulos. Recusa o discurso em que a obra é mera ilustração, a revelia do caráter mesmo que as define e anima. Propõe o mergulho de peito aberto na troca sutil de sensações proposta em cada trabalho aqui exposto. É uma conversa entre amigos.

A arte nos ensina generosamente, desde o início da humanidade, que a criação artística é o último reduto do individuo, esta célula de cidadania tão mais atuante no coletivo quanto mais consciente de suas próprias potencias. Acredito que a via da emoção é o caminho preferencial para a percepção estética. Porque é assim que essas obras costumam entrar nas nossas vidas. Na era das amizades virtuais e do crescente hábito de transformar círculo de amizades em networking, em ferramenta utilitária, esta mostra convoca a raiz primordial da amizade. Algo que habita a essência do estar no mundo porque o revela mais amplo e cheio de possibilidades na medida em que é o território da cumplicidade, da troca e da escuta franca.

O que preside esta seleção de trabalhos do acervo do MAC/PR são as delicadezas do convívio com o outro. “Cor, Cordis” (em latim: coração, corações) toma a parte pelo todo e, como elenco enxuto, presta homenagem a todos os artistas que nos ajudam a perceber o sublime ou o terrível em nos e no mundo. Homenageia aqueles criadores que dão corpo e fisionomia a uma gama enorme de sentimentos fundos, por vezes perturbadores, carregados de lembranças escuras ou memórias luminosas, mas sempre apresentados em generosa partilha. Porque, enquanto pudermos estar na companhia da criação artística, não estaremos sós. Teremos conosco toda a essência humana através dos tempos que nos antecederam ou nos rodeiam.

Como tratamos aqui de matéria sutil, volátil, de sintonia delicada, buscamos estabelecer proximidades de obras para, por semelhanças ou oposições, propor diálogos envolventes, daqueles que convocam vivencias e descobertas. Não há cronologia e sim uma trama de diversas gerações, linguagem e meios expressivos da tradicional pintura à vídeoinstalação.

Obras sobre a paisagem natural ou urbana do Paraná, do passado e do presente, pontuam alguns momentos da mostra, para evocar o local de convívio dessa amizade. Porque Curitiba, ao abrigar o Salão Paranaense, um dos salões de arte mais longevos e prestigiosos do país, origem (via prêmios aquisição) de boa parte do acervo do MAC/PR, há décadas vem abrindo caminho e plantando o que atualmente floresce na atuação vigorosa de diversas instituições culturais e eventos periódicos (ou episódicos, como o Faxinal das Artes). Instituições e eventos que tem afirmado Curitiba como polo propositivo de trocas regionais, nacionais e até internacionais, em convívio amigo, acolhedor e inclusivo da produção artística contemporânea.

Angélica de Moraes
Curadora da mostra

Serviço: Exposição “Cor, Cordis”, com obras do acervo do Museu de Arte Contemporânea do Paraná
Curadoria: Angélica de Moraes
Período expositivo: de 23 de maio a 22 de setembro de 2.013
Local: Museu de Arte Contemporânea – Rua Dês. Westphalen, 16 – Centro – Curitiba