Andy Warhol no Solar do Barão

Gravura de Andy WarholO Acervo do Museu da Gravura Cidade de Curitiba possui uma obra de Andy Warhol, o mais conhecido artista do movimento Pop Art americano. Trata-se de uma serigrafia de grandes dimensões, não tanto como as obras dos ícones ampliados que o fizeram famoso, mas, mesmo assim, de medidas representativas. Em cores atenuadas, que vão de um quase-bege ao vermelho escuro, passando por tons marrons, a gravura depreende um leve brilho devido à uma finíssima camada de pó de diamante que lhe dá o acabamento final. Denominada “The Shadow” (A Sombra), é um auto-retrato, que mostra o rosto do artista em perfil na sombra, ao mesmo tempo que também aparece em fotografia de grande contraste. A inclusão do pó de diamante no auto-retrato dá bem idéia do valor que Warhol se atribuía, algo que não digo como desmerecimento, uma vez que, na verdade, ele merecia – e ainda merece – o crédito de ter elaborado alguns novos paradigmas na arte do século 20, cujas ramificações continuam válidas até hoje.

Por outro lado, ele exerceu um papel preponderante no design gráfico e veio influenciar o modo como a linguagem visual contemporânea se estabeleceu. Linguagem esta que hoje, de certa forma, é meio comum, pois o artista – nascido em 1928 – faleceu em 1987, portanto, 20 anos atrás. Entretanto, quando Warhol passou a trabalhar, ou seja, a partir de 1962, seu método era revolucionário.

A transferência de imagens da publicidade e do design da época para o campo da arte foi realizada por ele a partir de uma certa tipificação de objetos, de notas de banco, de latas de sopa, de celebridades como Marilyn Monroe e Elvis Presley, nas quais não só destacava a óbvia identidade dos ícones, como apontava claramente o autor da obra, ou seja, o próprio artista.

Warhol mostrava reproduções quase fiéis dos motivos escolhidos, os quais seriam imediatamente reconhecidos inclusive pela ampliação das imagens. Assim, desde o início, o artista trabalhou as questões das imagens através dos ícones, e da identidade.

Esta serigrafia de Andy Warhol pode ser vista em uma das salas do Acervo do Museu da Gravura Cidade de Curitiba, na exposição “Gravura Contemporânea – Diálogos”, com minha curadoria, que apresenta cerca de meia centena de obras. Compõem esta mostra, obras de artistas paranaenses ou aqui radicados: Fernando Calderari, Elvo Benito Damo, Juliane Fuganti, Dulce Osinski, Ana Gonzalez, Gilda Belczak, Larissa Franco, Luiz Henrique Schwanke e Uiara Bartira.

Gravadores de outros estados brasileiros também participam com suas obras: Maria Bonomi, Luiz Cláudio Mubarac, Laerte Ramos, Alex Cerveny, Arnaldo Batalhini, Rubens Gerchman, Farnese de Andrade, Amilcar de Castro, Roberto Delamonica, Anna Bella Geiger, Carlos Vergara, Leonilson, Alex Gama, André Marcus, Feres Khoury, Iberê Camargo, Sandra Kafka, Regina Silveira, Renata Basile, Mira Shendel – nascida na Suíça, ela viveu e trabalhou em São Paulo.

Foram incluídos trabalhos de artistas estrangeiros e desta maneira é que Andy Warhol participa, ao lado de Karin Luner, Louise Bourgeois, Joel Shapiro, Martha Guerra-Alem, Leon Ferrari, Paul Zelevansky, Roberto Obregón e Takashi Iwamoto.

Voltando à obra de Warhol, a serigrafia apresentada não somente destaca sua própria individualidade como artista e autor, mas também se constitui num trabalho que é visível e esteticamente diverso dos seus outros serigrafados. Em vez da repetição de signos em que se estabelece uma igualdade de tratamento que os retira do mundo real e os transforma em simples padrões, seu auto-retrato detém qualidades únicas que merecem ser vistas no Museu da Gravura Cidade de Curitiba, Solar do Barão (Rua Pres. Carlos Cavalcanti, 533 – fone 41 3321-3269).

Por Nilza Procopiak – [email protected]

Divulgação/FCC